Xiii, deu ruim! Ontem a apresentadora Patrícia Abravanel participou do quadro “Os 3 pontinhos” do Programa Silvio Santos e causou polêmica ao falar sobre sua opinião em relação aos homossexuais.
Não só ela, mas também os outros participantes, falaram coisas que não agradou nenhum pouco a comunidade LGBT e todos os simpatizantes.
No programa, Silvio Santos perguntou se eles são a favor de que “homem e homem”e “mulher e mulher” formem casal como “homem e mulher”.
Respondendo ao Pai, Patrícia declarou:“Não sou contra o homossexualismo, só não sou a favor de falar que é normal. Criança tem que ser criada como homem e mulher”.
Esse comentário de Patrícia está dando o que falar nas redes sociais e muitas pessoas estão revoltadas com o que ela disse no programa. O site “Superpride”, maior site LGBT no Brasil, postou um texto rebatendo as declarações dadas pelos convidados de Silvio.
Dá uma olhada:
“A última edição do Programa Sílvio Santos mostrou um verdadeiro show de homofobia no famoso quadro “Jogo dos Pontinhos”. Confira os comentários ignorantes feitos por Sílvio Santos e seus convidados, no último domingo, transcritos e comentados abaixo:
Primeiro, Sílvio Santos pergunta aos convidados se eles são a favor de que “homem e homem”e “mulher e mulher” formem casal como “homem e mulher”.
Sílvio, sabemos que você é de uma geração onde tudo isso era muito diferente, mas mesmo assim fica difícil te defender e nunca é tarde pra aprender. Honestamente, a gente não precisa do pitaco, opinião ou aprovação de qualquer hétero, sobre o casamento gay. Seria tão relevante quanto eu um belo dia resolver opinar sobre a sua união com a Íris Abravanel… Porque tô me metendo, ou pior, julgando, se nem me diz respeito? Só tem duas opiniões que valeriam neste caso: a nossa própria e a do juiz que celebrar a união. Outra coisa, um casal gay é simplesmente um casal de homem e homem. Um casal de lésbicas é um casal de mulher e mulher. Nenhum dos dois tem qualquer interesse em formar “casal como homem e mulher” (caso contrário, seríamos heterossexuais).
Em seguida, Patrícia Abravanel disse: “Não sou contra o homossexualismo, só não sou a favor de falar que é normal. Criança tem que ser criada como homem e mulher”.
Patrícia, que triste. Em primeiro lugar, é homossexualidade e não homossexualismo. O sufixo “ismo” já foi abolido há muito tempo, uma vez que não denota transtorno ou ou doença (e toda comunidade médica e científica mundial concorda com isso, embora você – por fobia ou ignrância – não). Em segundo lugar, a homossexualidade, embora não seja o comportamento padrão da maioria, é perfeitamente normal sim, já tendo sido observada em mais de 1.500 espécies de animais, incluindo o homem. Em terceiro lugar, crianças que crescem sabendo que LGBTs existem correm apenas um risco: de crescerem e se tornarem adultos sem preconceito. Não é possível influenciar a sexualidade de alguém simplesmente por ensinar que existem pessoas que são diferentes mas merecem respeito da mesma forma. Você provavelmente aprendeu na escola que existe o Dia do Índio e devemos respeitá-los, mas nem por isso virou índio, certo? É pelo pensamento de pessoas como você – que prefere que crianças sejam criadas ignorantes em relação à diversidade que existe no mundo – que o índice de suicídio e depressão entre crianças e adolescentes LGBTs nas escolas é muito maior do que comparado ao restante da população. É pelo pensamento de pessoas como você que a evasão escolar entre LGBTs, e principalmente T, é altíssima, fazendo com que muitas dessas pessoas não consigam estudar e tenham como única alternativa de vida a marginalidade, ou ainda, a prostituição.
E quando achamos que não podia ficar pior, Carlinho Aguiar afirmou: “Não basta esse monte de veado, agora tem um monte de mulher colando velcro. Se elas me conhecessem, deixariam disso.”
Sobre o monte de veado e mulher colando velcro, não existe “monte”. Essas pessoas sempre existiram desde que o mundo é mundo (um livro de história te faria bem!). Acontece que vivemos em uma época onde cada vez mais, cidadãos LGBT podem se assumir e ser quem são, por mais que ainda existam pessoas ignorantes e preconceituosas como você. Seu pensamento também endossa bem o machismo a que lésbicas estão habituadas a passar todos os dias, de homens dizendo que elas só se atraem por mulheres por falta de homem. Lamentável que você perpetue este pensamento deprimente que oprime, diminui e desrespeita tantas mulheres diariamente!
Foi então que Flor mandou a dela: “Sou a favor, porque médicos dizem que quando a mãe fala muito na gestação que quer um homem, quando a menina cresce, ela quer obedecer a mãe”. Olha, a Vanusa cantando hino faz mais sentido que qualquer fala da Flor. O que pode se esperar de uma subcelebridade condenada ao ostracismo e que ressurgiu na mídia ao dizer que “vivia de luz”? Luz é o que você precisa na sua mente, querida.
Já Lívia Andrade foi a menos pior dentre todos, mas ainda assim fez feio ao dizer: “Sou a favor, principalmente se as mulheres continuarem sendo mulheres, femininas. Cada um faz o que quer depois que cortar o cordão umbilical, seja opção sexual, religião…”
Lívia, legal a parte do “cada um faz o que quer”, concordo. Se esse jogo merece um único “pontinho”, vai pra você. Mas olha, não existe opção sexual. Existe orientação. Ninguém opta, ninguém decide se vai gostar de homem ou mulher, simplesmente sente. Quando foi que você decidiu ser hétero, afinal? Ser ignorante sim é uma opção, já que você pode se informar sobre um assunto antes de sair passando vergonha. Em segundo lugar, mas não menos importante, mulheres lésbicas e héteros (e homens gays e héteros) tem todo direito de ter um visual, jeito ou comportamento feminino ou masculino. Tanto uma alternativa quanto a outra não faz de qualquer pessoa mais ou menos mulher, mais ou menos homem, ou ainda, pior ou melhor. E que bom que existem pessoas que ousam cruzar essas fronteiras de gênero e ajudam o mundo a ser cada vez mais liberto de padrões impostos, geração a geração.
E por fim, Carlito Tevez arrematou o festival de ignorância do SBT afirmando: “Sou a favor desde que eu participe, afinal, sou lésbico”.
Ok. Quer dizer que se você participar, então tudo bem ser LGBT? E se você não participar? Aí pode ter 1 morte a cada 28 horas só por conta da orientação sexual ou identidade de gênero da pessoa? Se você não participar, podem as travestis terem expectativa de vida de 30 anos? Se você não participar, pode ter lampadada e agressão gratuita na Paulista? E outra coisa, você não é lésbico porque é homem. Lésbicas são mulheres que gostam de mulheres, pessoas que como qualquer outra, merecem respeito e não existem meramente pra realizar seu fetiche.
É lamentável que uma emissora de televisão aberta com o alcance do SBT se disponha a exibir em sua programação discussões que apenas perpetuam a homofobia e o machismo tão enraizados na nossa cultura. Enraizados ao ponto de maior parte das pessoas que assistiu, provavelmente não apenas concordar com o que foi dito (como se isso sim fosse normal!), como não perceber o tamanho do absurdo e do desrespeito que está sendo propagado contra uma minoria já tão mal representada na mídia.
Salvo algumas excessões, como foi o caso da última temporada do Amor & Sexo na TV Globo, LGBTs na TV brasileira ainda ocupam pouco espaço, salvo se for pra fazer rir. Aí pode e existe há muito tempo, desde as esquetes do antigo Zorra Total em que a graça do personagem era ser gay, passando pelos quadros do Pânico ou CQC cujo mote já foi “confundir travestis com mulheres” e até os shows de transformistas do Show de Calouros nos anos 80 em 90, onde pra mim nunca ficou claro se as convidadas eram chamadas ali pra mostrar seu talento de fato ou apenas gerar ibope em cima do que é diferente ou bizarro pra maioria.
De qualquer forma, não se pode dizer que a culpa é simplesmente do Sílvio ou dos jurados. É culpa, antes de tudo, da nossa sociedade, na qual eles estão incluídos e tem os mesmos valores. Nós mesmos, LGBTs, também tivemos que aprender e desconstruir muito do que ouvimos a vida toda pra se desfazer da nossa própria homofobia internalizada, machismo e transfobia, que absorvemos porque também estamos nessa mesma sociedade. Sinceramente, não acredito que Sílvio Santos, Carlinhos, Patrícia Abravanel, Flor, Carlito Tevez ou Lívia Andrade sejam pessoas que tem ódio ou desrespeitam LGBTs na vida particular. São ignorantes – como a maior parte das pessoas – e precisam aprender.
Nessa hora, também é preciso cautela por parte do movimento LGBT. Devemos chamar atenção e exigir respeito quando somos desrespeitados – como é o caso aqui – mas temos que ter cuidado para não atirar pedras simplesmente, confundindo ignorância (falar sem conhecimento, usar o senso comum) com fobia (ódio infundado, aversão gratuita). Ou estaremos cometendo o grave erro de colocar essas pessoas no mesmo balaio de Bolsonaro, Feliciano, etc. Combater intolerância sendo intolerante, não dá, né? Assim como Patrícia mesmo reconheceu (e infelizmente apóia), não crescemos em uma sociedade que ensina pra crianças o respeito com a pessoa LGBT. Logo, ignorantes precisam antes de tudo aprender, o que eu acredito ser o caso destas pessoas, e o propósito desta matéria.
Espero sinceramente que, se ela chegar em qualquer um deles, possa servir para que reflitam e se tornem pessoas melhores, com conhecimento e humildade suficiente não só pra reconhecer o erro, mas também não repetí-lo, colaborando com a perpetuação do machismo e homofobia nossa de cada dia.” Escreveu Pedro HMC no site.
Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos, Patricia ou o SBT se pronunciaram sobre a polêmica que foi causada.